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quinta-feira, 29 de julho de 2010

Ainulindalë

"E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiu um som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram as profundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da música saíram para o Vazio, e este não estava mais esteve vazio. Nunca, desde então, os Ainur fizeram uma música como aquela, embora tenha sido dito que outra ainda mais majestosa será criada diante de Ilúvatar pelos coros dos Ainur e dos Filhos de Ilúvatar, após o final dos tempos. Então, os temas de Ilúvatar serão desenvolvidos com perfeição e irão adquirir Existência no momento em que ganharem voz, pois todos compreenderão plenamente o intento de Ilúvatar para cada um, e cada um terá a compreensão do outro; e Ilúvatar, sentindo-se satisfeito, concederá a seus pensamentos o fogo secreto.
...
E muitas outras palavras disse Ilúvatar aos Ainur naquele momento; e, em virtude da lembrança de suas palavras e do conhecimento que cada um tinha da música que ele próprio criara, os Ainur sabem muito do que foi, do que é e do que será, e deixam de ver poucas coisas. Mas algumas coisas há que eles não conseguem ver, nem sozinhos nem reunidos em conselho; pois a ninguém a não ser a si mesmo Ilúvatar revelou tudo o que tem guardado; e em cada Era surgem novidades que não eram previstas, pois não derivam do passado. E assim foi que, enquanto essa visão do Mundo lhes era apresentada, os Ainur viram que ela continha coisas que eles não haviam imaginado. E, com admiração, viram a chegada dos Filhos de Ilúvatar, e também a habitação que era preparada para eles. E perceberam que eles próprios, na elaboração de sua música, estavam ocupados na construção dessa morada, sem saber, no entanto, que ela tinha outro objetivo além da própria beleza. Pois os Filhos de Ilúvatar foram concebidos somente por ele; e surgiram com o terceiro tema; eles não estavam no tema que Ilúvatar propusera no início, e nenhum dos Ainur participou da sua criação. Portanto, quando os Ainur contemplaram, mais ainda os amaram, por serem os Filhos de Ilúvatar diferentes deles mesmo, estranhos e livres; por neles verem a mente de Ilúvatar refletida mais uma vez e aprenderam um pouco mais de sua sabedoria, a qual, não fosse por eles, teria permanecido oculta até mesmo para os Ainur.
Ora, os Filhos de Ilúvatar são elfos e homens."

[O Silmarillion - J.R.R. Tolkien]

terça-feira, 27 de julho de 2010

O que tiver que ser.


"Não sei se quero mais viver aqui sem você,
Se a cada dia eu me vejo mais infeliz.
Antes era tão sério,
Agora rio sem motivo para não chorar."


Tudo outra vez. Perdido de novo.

Teu sorriso se foi e eu fiquei com essa cara que me acompanha, parecendo um bobo, um idiota que não sabe como recomeçar.  O que é extremamente verdade.

Você me deixou para trás, dizendo que eu devia seguir meu caminho, que eu não podia abandonar meus sonhos. Mas que sonhos eu vou abandonar? se todos os que tinha eram contigo, e você os levou embora.

Juro que tento. Tento todos os dias ao levantar, e tento de novo ao me deitar, mas ainda está frio aqui. Ainda estou vazio, e por este vazio, meus passos ecoam sozinhos e tristes no corredor. 

Você levou o que eu era, e agora eu apenas estou. Estou sozinho, estou perdido, estou com frio. Estou cansado e querendo teu amor. Preciso de ti.

"Eu faço tudo o que você quiser, baby."

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Monocromático? Agora verdadeiro.

O sorriso havia sido pintado no rosto. Estava ali todos os dias.
A sensação de família feliz, pai, mãe e irmãos. Sorrisos pintados.

Estava desbotando. O quadro perfeito não estava guardado num museu, com proteção da luz, umidade, mofo. As lágrimas molhavam o quadro. A cor estava escorrendo pela tela, manchando a moldura.

Manchas não só de tinta. O mofo também manchava.
Mas não tinha como abrir a janela pra que entrasse sol, entrasse calor.

O sorriso pintado se desfez. Mas por trás dele não apareceu um rosto triste. Depois que ele se desfez, pode-se olhar para aquele rosto e ver um sorriso verdadeiro. Havia um motivo muito maior para sorrir. Havia a sua família agora. Começando, é verdade. Mas esta seria sua, e seria feliz.

domingo, 25 de julho de 2010

Traga o seu lar.



Foi preciso um bom tempo para eu entender que o bom par não é sempre quem faz rir, mas pode ser quem também te causa choro, dor. Dor de saudade, choro de vontade de colo. Aprendi agora que posso sim precisar de você sem ter que me envergonhar disso. Posso precisar e posso assumir.

Tento te fazer rir a todo momento. Sou chata, durona, teimosa.
Sou preocupada, carinhosa e carente.
Quero cuidar da tua roupa, da tua comida e do teu sono.

Não sei disfarçar quando não estou feliz. Mas também não sei mentir ao te sorrir. Todos os meus sorrisos são verdadeiros; são seus.

Não sei disfarçar que sinto ciúmes sim! Não nego ser desse jeito..
Não que eu tenha ciúme de tudo e todas. Você sabe que não é isso. Mas aah, sou assim.

Quero sempre ter o controle de tudo, mas estou aprendendo que tenho que entregar minhas coisas, que tenho que me entregar aos teus cuidados. Aprendi que você é quem me cuida.

E contigo desaprendi a escrever de outras coisas que não você..

domingo, 18 de julho de 2010

Desse jeito.

No meio ao caos, encontrei teu sorriso iluminando meu caminho, dizendo que não estava a brigar comigo, e sim que só queria me ver mais leve. Tuas mãos tentaram tirar o peso dos meus ombros, tuas palavras foram bálsamo pro espírito cansado.

Vi-me cansada de tudo ao meu redor, perdida e confusa e você me piscou, com muito significado por trás de seus longos cílios que emolduram seus belos olhos azuis. Tive paz então.

Meus pés ficaram gelados e você os segurou com suas mãos sempre quentes, até que eles esquentassem também. Um arrepio de frio passou por meu corpo, e prontamente seu braço estava ao redor de minha cintura, dando-me calor.

Meu coração foi preparado ao longo dos anos para um amor maior que eu, e então você me sorria com olhos intensos, dizendo pra eu tomar a trilha que se abria à nossa frente, um caminho a ser seguido a dois; nós dois.

Você está sempre na hora certa, no lugar certo, com a atitude certa.
Você é o certo pra mim.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Como a lua nova.

A tabela de cores em cima do sofá é a mesma da semana passada, ou fizeram uma nova mistura de tons?

Minha parede pintada de roxo.
Minha vida numa harmonia estranha.
Meu sorriso fora do ângulo, meus pés angulares no chão.

Sempre gostei de linhas. Retas.
Passei a admirar as curvas, circulos. A suavidade que elas transpassam.
Mas elas podem ser fortes também.

Os contornos incertos e indecisos da lua, mutantes como o humor de uma mulher.
Obscuros e singelos. Misteriosos e difíceis.
Nítidos quando ela se permite refletir algo belo. Escondidos em um céu sombrio quando ela se fecha, quando se esconde atrás de outro corpo.

Meu corpo reflete outro além do meu.
Minha alma anda ao lado de outra, e não mais escondida.
Passei a sorrir mais vezes, e mais verdadeiramente.
Entendo um olhar aparentemente mudo, mas tão expressivo.

Ouço meu pulsar mais alto, mais vivo.
Lembro que ao lembrar de ti, me vejo mais clara.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Gelo e cheiro.

Precisei de teus braços no lugar de minhas cobertas hoje. O sol que brilhava do lado de fora da minha janela não foi capaz de aquecer meus pés e mãos tão gelados.
Precisei de teus afagos.

As horas escorreram lentamente e meus olhos piscavam tão pesados. Tive muito sono hoje, pois a noite passada não foi de descanso. Acordei agitada a noite toda, com lágrimas escorrendo por meu rosto e molhando meu travesseiro toda vez que sonhava que estávamos brigando.
Senti medo a noite toda.

A xícara de café que eu bebi apenas me manteve presa ao "acordada", mas meu cérebro não estava desperto. Estava sim totalmente entorpecido, esperando a injeção de ânimo que é o seu cheiro pra mim. Preciso do teu cheiro para sentir que estou acordada.
Só seu cheiro é capaz de aquecer meu coração.

domingo, 4 de julho de 2010

Pelo buraco da fechadura.

Não tenho visto coisas inspiradoras nesses dias tão estranhos. Minha cabeça trabalha, trabalha, mas nada sai dela. As coisas estão ficando presas. Tenho perdido um outro tanto.

Quero escrever, mas neste tempo sobra vontade, falta inspiração. Parece que acabou a luz. Alguém fechou a porta e levou a chave embora, deixando toda a minha inspiração trancada do lado de dentro.
Eu a ouço gritando por socorro, dizendo que está sufocando e que eu tenho perdido bons textos... mas a porta e as janelas estão trancadas.

Terei de esperar pelo amanhecer, até que o zelador chegue para abrir as salas de aula.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sabor de infância.

Tomates verdes com sal a lembravam de sua infância.
Se via sentada sobre a bancada da cozinha, com as perninhas curtas balançando no ar. Sua mãe preparava bife com batata frita, o prato predileto dela.
O cheiro de alho do tempero do bife voltava a seu mente agora, depois de tanto tempo.
O gosto do tomate com sal também.

A menina e o irmão amavam comer feijão recém cozido com arroz numa caneca, antes mesmo do arroz estar pronto.

Não entendia porque lembrava tanto da infância agora. Foi uma infância normal, sem grandes atrativo ou aventuras.Mas fora feliz.
Ela era uma menina feliz e apaixonada pelo pequeno irmão risonho dos olhos verdes. Mas em algum momento, e ela não sabia qual, o carinho pelo irmão se perdeu. Desaprendeu a ser legal e boa com o menino.

Nunca teve muitos amigos.

E após tantas brigas, choro, raiva e uma despedida sem tchau, sem abraço ou palavras, a menina via que sentia falta do irmão.
Ela se via de novo naquela bancada. Feliz e e carinhosa, e pensava em como recuperar o tempo perdido, e superar as mágoas acumuladas.

Queria dizer que o amava.