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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Relatos de guerra.

"Coisas terríveis estão acontecendo lá fora. A qualquer hora do dia ou da noite pessoas pobres e desamparadas são retiradas de suas casas. Não têm permissão de levar nem mesmo uma sacola com alguma coisa e um pouco de dinheiro, e, mesmo quando têm, essas posses lhes são roubadas no caminho. Famílias são rompidas; homens, mulheres e crianças são separados. Crianças chegam da escola e descobrem que os pais desapareceram. Mulheres voltam das compras e descobrem as casas lacradas e que as famílias desapareceram. Os cristãos holandeses também estão com medo porque seus filhos são mandados à Alemanha. Todo mundo anda apavorado. Todas as noites centenas de aviões passam sobre a Holanda a caminho das cidades alemãs para semear suas bombas em solo alemão. Toda hora centenas, ou talvez milhares, de pessoas são mortas na Rússia e na África. Ninguém pode ficar longe do conflito, o mundo inteiro está guerra, e mesmo com os Aliados se saindo melhor, o fim não está próximo. 
E quanto a nós, somos bastante felizardos. Temos mais sorte do que milhões de pessoas. Aqui é calmo e seguro, e estamos usando nosso dinheiro para comprar comida. Somos tão egoístas que falamos sobre "depois da guerra" e ficamos ansiosos por roupas novas e sapatos novos, quando deveríamos estar economizando cada centavo para ajudar os outros quando a guerra terminar, para salvar o que pudermos. 
As crianças deste bairro andam com camisas finas e sapatos de madeira. Não têm casacos, nem capas, nem meias, nem ninguém para ajudá-las. Mordendo uma cenoura para acalmar as dores da fome, saem de suas casas frias e andam pelas ruas até suas salas de aulas ainda mais frias. As coisas ficaram tão ruins na Holanda que hordas de crianças abordam os pedestres para implorar um pedaço de pão.
Eu poderia passar horas contando a você o sofrimento trazido pela guerra, mas só ficaria ainda mais infeliz. Só podemos esperar, com toda calma possível, que ela acabe. Judeus e cristãos esperam, o mundo inteiro espera, e muitos esperam a morte."

O Diário de Anne Frank 

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