Sentou-se confortavelmente no sofá da sala, então calmamente colocou seus óculos e pegou as agulhas de tricô. Para ela, tricotar era uma terapia, mesmo que soubesse fazer poucas coisas com as duas agulhas e suas lãs. Sentada a tricotar ela se via perdida entre pensamentos, porque enquanto as mãos estavam ocupadas fazendo seu trabalho artesanal, a mente se via livre depois de ligar o automático.
Enquanto sua mente vagueava entre tarefas futuras, de planos e sonhos, viu-se de repente na tarde em que aprendeu a tricotar com aquela senhora que lhe era tão querida. A maior reclamação da dita senhora era que a moça apertava demais os pontos, sendo assim difícil fazer a próxima carreira. E no exato momento em que sorriu por lembrança tão simples e singela, lembrou-se de sua mãe a lhe ensinar os pontos de crochê. A reclamação de sua mãe era a mesma: pontos apertados demais, o que no crochê era um problema mais sério do que no tricô.
A moça tentou de todas as formas possíveis afrouxar os pontos que dava, tentando relaxar as mãos, como via sua mãe fazer, tentou soltar mais de seu fio, tentou e tentou. Mas talvez a verdade seja que a moça gosta de ter as coisas apertadas em si, pertinho, juntas, e por dentro do coração ter tantos nós e pontos apertados, as mãos apenas refletissem isso. Não era falta de habilidade para trabalhos manuais, apenas excesso de sentimentos e sensações dentro do peito.