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sábado, 30 de janeiro de 2016

A justiça de Deus.

"Sendo assim, o juiz justo é principalmente aquele que corrige uma injustiça em uma causa civil. Ele também julgaria com justiça, sem dúvida, um caso criminal, mas dificilmente era nisso que os salmistas estavam pensando. Os cristãos clamam a Deus por misericórdia, em de vez de justiça; os judeus daquela época clamavam a Deus por justiça para corrigir a injustiça. O Juiz Divino é o defensor, o resgatador. Estudiosos me dizem que, no livro de Juízes, a palavra que assim traduzimos poderia quase ser traduzida como "defensores", pois embora esses "juízes" às vezes desempenhassem funções que deveríamos classificar como jurídicas, muitos estavam bem mais interessados em resgatar com a força de seus braços, os israelitas da opressão dos filisteus e de outros povos. [...]

Acho que há razões muito boas para considerar a imagem cristã do juízo de Deus como muito mais profunda e muito mais segura para nossas almas do que a judaica. Mas isso não significa que a concepção judaica  deva ser simplesmente descartada. Eu, pelo menos, acredito que ainda posso alimentar-me bem dela. 

Ela complementa a imagem cristã de uma forma muito importante, pois o que nos amedronta na imagem cristã é a pureza infinita do padrão a partir do qual nossas ações serão julgadas. Sabemos, porém, que nenhum de nós jamais se aproximará desse padrão. Estamos todos no mesmo barco. Devemos todos concentrar as nossas esperanças na misericórdia de Deus e na obra de Cristo, não em nossa bondade. A imagem judaica de uma ação civil, por sua vez, nos lembra claramente que talvez estejamos em falta não somente em relação aos padrões divinos (o que é óbvio), mas também a um padrão absolutamente humano que todas as pessoas lógicas reconhecem e que nós, em geral, desejamos impor sobre os outros."

C. S. Lewis - Lendo os Salmos.

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